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Disciplina

  • Foto do escritor: Maíra Colombarolli
    Maíra Colombarolli
  • 5 de jun. de 2020
  • 2 min de leitura

Recentemente, tenho refletido sobre os muitos posts que vejo exaltando a disciplina como virtude máxima de um ser que quer chegar a algum lugar. O discurso bastante disseminado é que, pra alcançar algum objetivo, tem que ter disciplina. Que não dá pra esperar a motivação, tem que fazer apesar da falta dela.


Eu resolvi, então, pesquisar o significado de disciplina. Classicamente, disciplina é o ato de controlar o comportamento através do estabelecimento de regras de conduta. A American Psychology Association (APA), define esse termo dentro do escopo de “self-control” como “a habilidade de reprimir ou praticar a repressão de um comportamento, reação, emoção ou desejo impulsivo”.


Não é que eu discorde de que um comportamento novo, pra se tornar habitual, exija esforço consciente empregado numa consistência mínima. O que eu fico refletindo é como a gente consegue transformar tudo numa fonte de autopunição e autojulgamento, sem nem mesmo se dar conta disso. Absorvemos as narrativas do “no pain, no gain”, sem ao menos questionar se aquele ganho existe mesmo, ou faz algum sentido pra gente. E quanta culpa, sentimento de inadequação e sensação de fracasso esses discursos nos fazem sentir.

As pessoas repetem e internalizam esses conceitos abstratos sem nem ao mesmo saber se isso é real. E eu diria que uma das falácias mais bem estabelecidas e disseminadas atualmente é essa de achar que controle racional, disciplina, força de vontade e auto-controle são virtudes de caráter. Que são retrato de uma mente forte e uma personalidade de sucesso. Que são um ideal a ser atingido, um ideal talmente abstrato é imensurável que me faz desconfiar se ele de fato existe. Desconfie de todo o discurso que coloca toda a conta do sucesso ou do fracasso em uma característica que ninguém sabe muito bem definir.


Temos uma sociedade que se alimenta do sentimento de insatisfação constante, que precisa ser sanado com algum produto ou solução mirabolante. O fracasso da sociedade, entretanto, é depositado na falta de autocontrole dos seus indivíduos, seres indisciplinados, indomesticáveis, vulneráveis aos discursos atraentes de soluções possíveis e práticas.



 
 
 

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Maíra Colombarolli

Especializada em Neuropsicologia Clínica, Psicóloga por formação, pesquisadora por vocação.

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