Compulsão
- Maíra Colombarolli
- 10 de ago. de 2020
- 2 min de leitura
Quando estamos exauridos de energia mental, a autoindulgência serve para nos trazer um certo alívio contra o excesso de demandas. Por isso, tende a acontecer no modo desligado, com atenção reduzida, justamente porque nosso cérebro está buscando não empregar muita energia, e muitas vezes esses momentos só são percebidos depois que acontecem, quando os desconfortos dos excessos nos fazem mal.
Como a autoindulgência, a compulsão também está relacionada com a busca por sensações de prazer e alívio. As pessoas se habituaram a chamar de compulsão qualquer momento de excesso de prazer, seja com comida, compras, bebida, sexo, etc. Contudo, diferentemente da autoindulgência, a compulsão normalmente acontece de forma consciente (no sentido de que a pessoa percebe imediatamente o que está ocorrendo) e tende a ser acompanhada por um nível maior de sofrimento e angústia. Uma das características da compulsão é a sensação de perda de controle. Ou seja, a pessoa não consegue interromper aquele comportamento mesmo quando identifica que é excessivo e claramente danoso. A compulsão é exatamente isso: não conseguir parar.

A compulsão envolve muitos componentes, e tem uma forte influência de pensamentos e emoções fortemente associados com o objeto da compulsão (que pode ser qualquer comportamento ou substância que seja fonte de prazer). Nesse sentido, o excesso de autocontrole e de disciplina faz nossa mente entrar num modo “prazer” vs. “desprazer”, em que o autocontrole passa a ser associado com os “sacrifícios” e abdicação de muitos p
razeres, e aquilo que você passa a restringir (como alimentos em uma dieta restritiva, por exemplo), passa a ser associado com uma fonte de prazer intensa, como quando você come um doce no dia de “furo” da dieta. Essa mistura de pensamentos (muitos deles subconscientes) e emoções positivas intensas faz uma cola poderosa nos nossos sistemas que faz com que aquela sensação seja altamente desejada em momentos de estresse intenso. Quem nunca ficou desejando um doce em dias de trabalho estressante? Imaginando seu prato favorito quando estava fazendo uma dieta? Ou foi dar uma voltinha no shopping depois de um dia estressante e acabou comprando mais do que devia?
Por mais que a compulsão seja um sintoma que pode estar presente em transtornos, ela nem sempre representa um distúrbio. Porém, se você tem um estilo rígido de pensamento, como aquele caracterizado pelo autocontrole e disciplina excessivos, busca por padrões irreais e sentimento de culpa e fracasso, as chances de desenvolver algum tipo de compulsão aumentam consideravelmente. O ciclo controle-compulsão é dual: um não existe sem o outro. E se você apresenta comportamentos compulsivos, muito provavelmente está funcionando num modo de rigidez e controle excessivos em algum ponto. Será que você consegue identificar o que está em cada extremo?
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