Quem nunca ouviu que precisava mudar de hábitos diante de alguma consequência indesejável, que atire a primeira pedra. Seja reeducação alimentar, prática de exercícios físicos, hábitos de sono, entre outros, a grande maioria das pessoas já se confrontou com alguma indicação de mudança de hábitos, normalmente para reduzir prejuízos da saúde ou aumentar o desempenho em alguma área da vida.
Hábito, por definição, é um comportamento recorrente que é repetido de forma automática e sem necessidade de um esforço cognitivo importante. Por isso que a construção de um novo hábito normalmente vem associado a ideia de praticar a disciplina. Isso acontece porque, antes que se torne um hábito, um comportamento que não é comum exige que dediquemos uma parte de nossos esforços mentais para executá-lo de forma repetitiva. Isso vai contra a tendência natural do nosso cérebro preguiçoso de deixar de lado qualquer coisa que exija um pouco mais de esforço. A preguiça tem uma função: se devêssemos aplicar muito esforço mental pra fazer tudo, sempre, o nosso corpo não teria condições biológicas de sobreviver, porque gastaria uma quantidade absurda de energia de forma constante.
Criar ou modificar hábitos é possível, porém exige um esforço contínuo e consistente por um período de tempo longo. Pela própria característica limitada do nosso cérebro, esperar conseguir mudar hábitos diversos ao mesmo tempo de forma rápida e eficaz é não apenas pouco realista como bastante difícil. Ainda assim, estamos sempre querendo fazer tudo ao mesmo tempo, achando que é possível fazer dieta, musculação, pós graduação, estudar outro idioma, ter a casa limpa e organizada, estar com as unhas feitas, trabalhar com foco total, cuidar do cachorro, etc. sem nos sentirmos exaustos ou culpados pelas coisas da lista que ficaram pela metade. Vivemos em uma sociedade que normalizou o “multi-tasking” e a habilidade de dar conta de TUDO de uma forma que vai muito além das nossas reais possibilidades, nos impondo um ideal completamente irrealista e adoecedor em muitos sentidos.